sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Caipirinha, milk shake, uma fada surrada e mais um ano que entra

Nunca fui de ficar reclusa no meu aniversário. Sempre gostei de festa, comemoração, bolo e gente por perto. Por mais que tenha passado a crer em mapa astrológico, nunca engoli esta história de inferno astral que precede o mês do nosso nascimento. Nos anos que achei que isto poderia estar ocorrendo, me dei conta que eu é quem tinha alimentado meus próprios demônios e criado alguns infernos (antes fossem inferninhos). Tenho amigos que viram ostra, amigos que choram ou que preferem sair para jantar com o mínimo possível de pessoas. Respeito. Mas 02 de setembro é meu dia e com licença, consegui mais um ano, mais uma bênção: a de estar viva e não simplesmente sobrevivendo. Eis aqui um relato de como entrei na idade de Cristo com um pau na mão dando uma surra numa fada.

Diferentemente de anos anteriores, este ano não fiz contagem regressiva de um mês de antecedência. Me dei conta que a data era dali a quatro dias e debati por 10 minutos se faria ou não uma festinha. Afinal, acabei de aportar nestas terras e estive com os novos amigos apenas duas ou três vezes. Mas foi exatamente isto que ativou meu botão de comemorar: e por que não brindar com quem me recebeu tão bem numa cidade que eu adoro poder falar mal? No fundo eu sabia que o brinde não era apenas em minha homenagem, mas à deles também. Era uma forma de agradecimento. Sem contar que desde os 16 anos de idade não celebro aniversário com minha mãe por perto. E seria meu primeiro aniversário com meu querido W. E eu queria fazer brigadeiro. E comer bolo. E tomar caipirinha. E me sentir especial sim. Porque eu gosto. E posso.

Então, desde as 24 horas que antecederam a data, dei largada para a sessão de cuidados: cabelo pintado em salão seguido de corte, manicure, pedicure, sobrancelhas depiladas. Praticamente barba, cabelo e bigode. E, na tarde do dia 02, massagem sueca num spa pelas mãos de um homem forte chamado Felipe. Presente de W.

A primeira etapa foi festa de criança, na bagunça ao lado dos filhos dos meus recém-amigos. Como você explica para uma garotinha de nove anos que ela ainda não pode tomar cachaça? Faça um milk shake de morango e diga que é "caipirinha for kids". Pronto, naquela noite nasciam futuros viciados. Do lado de fora da casa, minha mãe grita: "traga um lenço!" Chego lá e pela 1a vez na vida tem uma piñata para mim. Todinha para mim! Piñatas são um clássico da tradição mexicana: potes de papier machê em formato de tudo o que você possa imaginar - flores, carros, super heróis, Bob Sponja, cavalinho -- com doces dentro. Uma venda é colocada nos olhos de uma criança que dá umas rodadinhas para ficar tonta e tentar acertar com um bastão o boneco pendurando numa árvore. Quando ele quebra, derrama rios de doces e brinquedinhos. É o mesmo conceito do quebra-pote brasileiro, um clássico da minha infância. Então é aqui que aparece o pau: um cabo de vassoura. E é aqui que aparece a fada: minha piñata era uma Sininho do tamanho de um bebê e com cara de monstro. Surrei a bichinha com gosto. A cabeça foi parar do outro lado da rua. Botei pra fora qualquer sinal de demônio que quisesse roubar meu bom momento astral.


Abre parênteses: como é que de um ano para outro a vida pode tomar um caminho completamente distinto? Em 2008 eu comemorava meu aniversário numa champanheria carioca, cercada de amigos de longa data e de alguns amigos também recém-conhecidos, mas de perfil tão distinto dos amigos de Laredo. Eram publicitários, fotógrafos, atrizes, músicos, cineastas, designers. No Rio todo mundo é pop. Estouramos vários espumantes e ainda tive forças para emendar um cabrito com arroz de brócolis na Lapa às 2h da madrugada. Aqui, pessoas de profissão "normal", -- advogados, professora de 2o grau, instrutora de academia, jornalista -- muitos recém-saídos de reunião do Rotary Club. E eu servindo leite batido pra gurizada, dando um beijo no meu marido e abraçando minha mãe. Quero nem pensar no ano que vem. Que venha. Fecha parênteses.

A noite ainda teve direito a bolo encomendado combinando com a cor dos pratos, da toalha de mesa e dos guardanapos; brigadeiro coberto com chocolate granulado; pão de sardinha que virou minha "receita secreta" de sucesso; queijos variados, tomate cereja no azeite e hummus de caixa porque a gente também tem que ser prática de vez em quando. E eu de avental vermelho a noite inteira atrás do balcão preparando caipirinha para os convidados. Verdade, mal tive tempo de conversar com as pessoas. Servir foi o que fiz, mas com gosto, com vontade. Tome, prove um pouco da de limão que é clássica. Experimente agora a de morango. Morango com limão caiu no gosto dos laredenses. Um pouco do meu Brasil misturado com cachaça e açúcar. Um pouco de mim. Receber é bom, mas dar é tão prazeiroso quanto. E juro que esta frase não tem duplo sentido.

4 comentários:

  1. Ju,

    Adorei! Me lembrou 100% meus aniversários de criança na verdade. Eu adoraaaaaava os primos ao redor, o bolo confeitado, a grande família que se formava em torno da gente só pra ver nossa alegria. E essa piñata sua, lá em Salvador também tinha! Em todos os aniversários, tinha alguma coisa no teto da varanda amarrada cheia de doces dentro e o esquema era exatamente o mesmo... só que o nome do negócio não era piñata e agora não lembro. Vou perguntar a minha mãe e te digo depois!! Adorei ver que de alguma forma, tá rolando um retorno a um estilo de vida no mínimo mais caloroso, acredito eu. Beijo, nega!

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  2. :)Eita fui lá no túnel do tempo e me lembrei de alguns aniversários que tive com o "quebra-panela" :) era assim que eu conhecia. Era uma panela de barro enorme, cheia de doces!
    Legal essa comparação de aniversários, tão "distantes" mas que te fizeram feliz, o importante estar vivo é isso.
    bjs

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  3. Amiga, fico feliz por ter tido um dia tão especial e tão bem comemorado, com a mãe por perto então... bom demais!Um beijo enorme! Felicidades.

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  4. Rasga Saco!!!!!! Lembrei agora.
    O vizinho lhe mandou um abraço. Topei com ele no elevador. :)
    Bju!

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Eu adoro um comentário sobre as minhas coisices. Escreve, escreve!