quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Independência, vencedores e vencidos

Em 16 de setembro o México comemorou seu 199o. aniversário de independência do domínio espanhol. É interessante observar como os mexicanos, pelo menos neste aspecto, são bem mais patrióticos que nós brasileiros. Quando eu era criança lá nas brenhas do sertão, eu marchava com a farda de gala do colégio pelas ruas da cidade, seguindo a marchinha da escola e a banda do batalhão militar. Depois disto, 07 de setembro tornou-se apenas mais um feriado para acordar tarde e descansar. Já no México, as fiestas pátrias são coisa séria. Os mexicanos enfeitam as ruas de vermelho, verde e branco, as cores do país, fazem comidas típicas para esta celebração e reunem-se para festas em casas de familiares e amigos. É um patriotismo que vai além dos desfiles militares que estamos acostumados no Brasil. Há um sentimento civil de patriotismo acima de tudo. Tive a chance de ver isto de perto durante uma viagem à Cidade do México há cerca de quatro anos. Aquela noite no distrito boêmio de Coyoacán, pertinho da casa de Frida Khalo e Diego Rivera, foi uma das mais inesquecíveis que já vivi. Não teve nenhum grande romance, nenhuma grande aventura hollywoodiana. Apenas uma brasileira de coração aberto comendo cactus com tubarão na varanda de um restaurante de culinária fusión moderninha, brindando com um cara que eu havia conhecido durante o vôo Rio-Cidade do México e que virou meu companheiro de viagem durante aquela semana. Fogos de artifício, barraquinhas de comidas típicas e super exóticas por todos os lados, dança, pimenta e leveza no ar eram o pano de fundo perfeito. Também observei semelhante comemoração no Chile há dois anos, por coincidência também em setembro, indo a suas fondas regadas a churrasco, empanadas, cerveja e vinhos, tanto em grandes espaços urbanos quanto nas casas de amigos. Deliciosa experiência, mas que me perdoem os chilenos patriotas: eles não chegam perto do tempero que o México tem. Deve ser o chilli azteca.

Laredo, Texas, tentou colocar tempero na sua festinha, mas a coisa ainda assim ficou meio morna, faltando faísca. De toda forma, foi prazeiroso ver aquela gente toda reunida no mormaço noturno na Plaza San Agustín, no centro histórico da cidade, celebrando sua herança histórica e cultural. A comemoração ocorreu um dia antes da celebração oficial. O motivo é simples: com Nuevo Laredo, México, a apenas um cruzar de rio, uma festa no dia 16 de setembro ficaria praticamente vazia.

A noite teve direito a danças típicas, geralmente belas moças sendo cortejadas por rapazes, tudo num estilo meio inocente e campestre; desfile de "rainhas" dos estados mexicanos (como eles adoram isto! Tem rainha pra tudo, igualzinho ao Brasil. Olha que eu já fui rainha do milho no século passado!);cantores com nomes como Danilo Daniel; grupos de mariachis; banda do batalhão de Nuevo Laredo; barraquinhas de tacos e jamaicas, um suco à base de hibisco. E belas pequenas cenas, como a menininha flamulando a bandeira mexicana duas vezes maior do que ela. Algumas mulheres e crianças vestiam roupas típicas, como aquelas belas batas de bordados coloridos que eu uso constantemente para ficar em casa. Havia um vendedor de bandeiras com a metade do rosto tapado por uma delas. Membros da Igreja Cristã Misericórdia aproveitando a aglomeração para entregar panfletos de "El infierno: la decisión es tuya". Um organizador de eventos distribuindo os panfletos do show da cantora pop Paulina Rubio com suas pernocas à mostra. Um padre tomando Coca-Cola em frente ao coreto.

Em meio a tanta informação, na minha cabeça ecoava o comentário que minha mãe fez outro dia quando falávamos sobre os vencedores e os vencidos da guerra entre Estados Unidos e México em meados do século XIX. Sim, os EUA venceram militarmente, levando o México a se render e a entregar alguns dos seus territórios, incluíndo o Texas. Mas e o legado cultural deixado pelos "vencidos?" A influência mexicana é muito forte na culinária, nas artes, na cultura, no idioma. Se olharmos por este aspecto, quem de fato é o grande vencedor? Senti uma certa ironia com aquela bem-vinda celebração da história mexicana em solo americano. E, em coro com o cônsul-geral do México que ostentava a bandeira de seu país na sacada do Hotel La Posada, logo após cantarem o hino nacional, também gritei: "Viva México!"




Um comentário:

  1. Olá. Me tira uma dúvida: de Laredo, nos EUA, até México DF qual é a distância em kms? Gracias!!!

    ResponderExcluir

Eu adoro um comentário sobre as minhas coisices. Escreve, escreve!