sábado, 19 de setembro de 2009

Zunhe-me

Ela tinha as maiores unhas que qualquer mulher dona de casa jamais ousou ter na vida. Unhas gordas e longas. Garras superlativas. Esmalte cor-de-abóbora com cristais na ponta, nenhuma lasca, nenhuma cutícula por fazer, nenhuma sujeira por baixo. Apenas o abóbora reluzindo naquele final de tarde, numa cidade que cheirava a pó quando a chuva chegava. E chovia. Era baixinha. Era larga. Tinha cabelos negros grossos e mal-cuidados. O zelo estava depositado naquelas unhas, naqueles cristais, naquelas pontas quadradas duras como cimento. Quantas manicures vietnamitas por semana? A chuva. Um homem sai do carro. Caminha rápido para não se molhar em direção à mulher de unhas fenomenais. Ele é magro. Ele é franzino. Ela ocupa duas vezes o espaço do seu corpo. Ela sorri com seus olhos pequenos borrados sobrecarregados de sombra, lápis, delineador e rímel. Com o braço esquerdo ele enlaça sua cintura. Ela repousa as intermináveis unhas sobre o seu quadril. Para ele o mundo pode acabar ali. Seu mundo por uma zunhada cor-de-abóbora.

Um comentário:

Eu adoro um comentário sobre as minhas coisices. Escreve, escreve!