terça-feira, 28 de julho de 2009

Meda: fantasmas no motel

Antes de achar que estou sendo safadinha, vale lembrar que o sentido original de motel vem aqui dos Isteites: trata-se de um hotel de beira de estrada onde você estaciona seu carro e hospeda-se. O brasileiro, este ser safado (ainda bem) por natureza (ops, já entrei em contradição!), se apropriou do termo para nomear os diversos templos de prazeres espalhados pelo país. Portanto, aqui nas bandas do norte, motel é hotel e você não é obrigado a fazer fuque fuque se não quiser. Famílias inteiras hospedam-se nestes motéis para descansarem após um longo dia de viagem. No caso do Motel 6, em Sinton, Texas, fantasmas também.

Estávamos cansados da longa sexta-feira viajando 2h30m de Laredo a Sinton para a reunião do partido Democrata regada a várias horas de recepção com cerveja, barbecue e palestras políticas. Eu e W. queríamos dormir cedo, pois um dia na praia do Golfo do México nos aguardava na manhã seguinte. Estacionamos o carro nos fundos do motel. A noite era um breu total e não conseguíamos ver o que se localizava à frente do estacionamento. Tão sonolentos estávamos que nem fuque fuque ocorreu.

W. adormece rapidamente. Eu, após um breve ensaio de não mais de meia hora, acordo como se tivesse tomado três litros de Redbull. Começo a sentir um medo que me parece bastante irracional: medo de fantasmas. Olho para a cama vazia ao lado e acho que alguma imagem fantasmagórica aparecerá sorrindo maldosamente para mim. Verdade: de vez em quando sinto uns pavorzinhos assim. Deve ter sido a educação de terror em colégio católico. Mas ali, naquele lugar totalmente neutro, agarrada ao meu homão de 1,90m e 90Kg, este pavor não faz o menor sentido. Fecho então os olhos para evitar contato com os defuntos e falo para mim mesma que tudo aquilo é irracional. O relógio se arrasta madrugada adentro e nada do sono se apoderar de mim. Enquanto isto, durante a noite, W. pula da cama pelo menos quatro vezes de forma bastante violenta! Ele nunca foi de pular da cama. Parecia um ex-combatente do Vietnã tendo flashbacks de bombardeios. Imediatamente após cada convulsão sonâmbula, ele volta a dormir. Na verdade, me dou conta que ele nunca nem despertou. Num destes espasmos, se agarra à minha cintura e como uma criancinha, diz: "me abraça, me abraça, estou com tanto medo". Meda, pavor, pânico! Apesar de aterrorizada, preferi não acordá-lo.

De repente, escuto vozes. No quarto ao lado, um casal discute violentamente. Quinhentos "fuck you" por minuto de cada parte. Meu coração quer pular fora do corpo. Que diabos está acontecendo naquele lugar? O medo começa a me paralisar. Sinto que serei testemunha de algum crime de tão porradaria que está sendo a briga. Começo, então, a rezar, suplicando para que uma legião de anjos entre no quarto e aparte aquela briga. As preces são atendidas: em menos de cinco minutos uma mulher bate à porta do casal e pede firmemente para que parem, não se machuquem e deixem todos dormir. A briga para e eu certamente tenho minha fé renovada.

Vejo o dia raiar. Não dormi quase nada, apenas alguns cochilos espaçados entre um pânico e outro. Minhas olheiras batem nos pés. W. acorda de bom humor dizendo que apagou e estava pronto para ir à praia. Conto para ele tudo o que ocorreu durante a noite. Ele não se lembra de absolutamente nada sobre seus violentos pulos e também não ouviu nada do tumulto do quarto ao lado.

Saíamos do motel pela porta dos fundos em direção ao carro. E ali, em plena luz do dia, a cerca de 15m do quarto, avistamos o cemitério histórico do condado de San Patricio repleto de lápides e de fantasmas que enfim descansavam para naquela noite tirar o sono dos próximos hóspedes do quarto 120.

Um comentário:

  1. Tenha medo, comadre!!Afe... jamais dormir novamente em cercanias de cemitério, hein? Beijo, frô!

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Eu adoro um comentário sobre as minhas coisices. Escreve, escreve!