segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Éramos três na estrada


Eram três pessoas na estrada, três pessoas felizes na estrada, um homem compenetrado que conduzia e duas mulheres que sorriam na estrada e falavam da estrada e da cor do mato, e do verde do mato, e daquele céu de tantas nuvens, e da forma que as nuvens tomavam na estrada, tanta metamorfose de nuvens na estrada, um pássaro que ela viu eu também vi, e virou um avião e virou um míssil, como assim mudamos de pássaro para míssil? mas podemos também, um dia somos livres, outro dia detonamos bombas suicidas, mas ali na estrada não havia suicídio, havia três pessoas, três pessoas felizes na estrada, um homem que pegava na mão da sua mulher e duas mulheres que sorriam sem parar e brincavam com a luz, com aquele banho de sol dourado no final da tarde, mulheres que sorriam ao se fotografar, que bela e inocente brincadeira narcisista para não perder aquela luz que vinha daquele buraco no céu, e do oeste a noite descia seu manto preto-carvão e lá no leste a luz explodia alaranjada, aquele céu que a apenas oito metros era um céu de dilúvio, vimos um pedaço de fim de mundo ali na estrada, não enxergávamos um palmo à nossa frente, e chovia grosso, e chovia muito, e chovia uma nuvem negra sobre nossas cabeças, mas estávamos na nossa arca, protegidos por gargalhadas e por um arco-íris que se formou lá atrás no norte, porque embarcávamos rumo ao sul, mas sul e norte são tão relativos e para que tanta bússola nesta vida se de repente a vida chega num só fôlego, porque o fôlego foi nossa primeira voz, a minha, a dele, a dela e a sua, e é assim mesmo nesta vida, às vezes tudo chega num só fôlego, um fôlego que dura uma risada, uma risada que dura uma estrada e afe, eu prefiro viver assim, num fôlego interminável, no meio de uma estrada que chove, no meio de uma estrada que ilumina, do meio de uma gente que se metamorfoseia no melhor que consegue ser.

Um comentário:

  1. Um texto que veio da alma, uma alma feliz e que me fez feliz, pela felicidade descrita, pela leitura de uma escrita plena...
    Besos
    Mommy

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Eu adoro um comentário sobre as minhas coisices. Escreve, escreve!