quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Então é véspera de Natal e os ventos mudaram a partir da meia-noite trazendo um friozinho de estalar a espinha. O meio-oeste é um tapete branco mas não há sinal de neve por aqui. Há um sol dourado, um céu muito azul e um vento que derruba cadeiras no quintal. Na fronteira os mexicanos preparam seus tamales, deliciosas iguarias à base de milho, semelhante a uma pequena pamonha salgada, para celebrar a Noche Buena. Dona Amélia, minha diarista, me trouxe uma dúzia feitos por ela na mais autêntica tradição, com pimenta boa e brava. Os mais fincados no lado texano do Rio Grande celebram a data no dia 25. O trânsito durante a semana na divisa dos dois países esteve intenso, com a leva de mexicanos cruzando a ponte para festejar a data ao lado da família. Se existe recessão, a impressão que se tem é que ela acabou por aqui. Prateleiras estão vazias nas lojas e desde o final de novembro as filas estão enormes -- talvez porque os estabelecimentos tenham deixado de contratar trabalhadores temporários. Papai Noel fala espanhol e vende queijos com geléias no supermercado onde eu deixo para comprar tudo de última hora. Um presunto defumado para a noite de 24, um peru para o almoço do 25. O chutney de manga já está pronto desde a noite passada. A casa cheira a gengibre e especiarias. Gelatina colorida de sobremesa. Eu, a segunda geração, já incorporo as tradições da primeira. E crio novas, como um escondidinho de linguiça. Roberto Carlos não toca na TV, mas não sinto a menor falta. Os hinos natalinos ganham nova roupagem em forma de jazz, rock e R&B no Starbucks local, onde bebo meu Caramel Brulé Latte no mais puro estilo new yuppie. Me reúno com os amigos recentes para organizar uma grande festa para 80 pessoas na noite do 25 numa charmosa galeria de arte no centro da cidade. Escolhemos os panos para enfeitar o local. Seleciono as cores: verde, roxo e prata, uma intensidade de contrastes. Tento sentir o mesmo frio da barriga de anos atrás quando a data de hoje chegava, mas meu termômetro está em temperatura natural. Este ano não há árvore. A mudança iminente para a nova cidade pediu prudência nos gastos com decoração. Apenas uma meia vermelha e outra verde na janela da sala, aguardando um Papai Noel que que terá que entrar pelo buraco da coifa da cozinha na falta de uma chaminé. Será um natal de duas pessoas, um primeiro natal de casados, ao lado de uma gatinha e duas cachorrinhas. Um bebê e seria quase um presépio. Passo a semana tentando me lembrar porque é que celebramos o natal. O sentido religioso há muito tempo se foi, hoje é tudo comércio, mas também família. Ainda assim à noite vou ler em voz alta um trecho da Bíblia, voltar às origens, celebrar um hippie 2000 anos à frente do seu tempo que veio à Terra com uma mensagem de paz, só não ficou tão pop como Buda ou o Dalai Lama. Um pouco de incenso faria bem a este mundo. Assim como algumas doses cavalares de boa vontade. Mas celebremos. Feliz Noche Buena, Merry Christmas, Feliz Natal a todos.

Um comentário:

  1. Nega! Você escreveu horrores e eu não li nada! Muitas maluquices acontecendo in my life nesse momento. Mas ano que vem será melhor! E por isso estou aqui: que esse seu novo Natal tenha sido muito bom e que o Ano Novo seja ainda melhor! Não esquece que aqui estamos torcendo por você aí, viu? Beijinhos! :)

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Eu adoro um comentário sobre as minhas coisices. Escreve, escreve!